Para muitos em Blumenau e região que tinham a possibilidade de acompanhar pela TV, desde as experiências até a transmissão primeira, era tudo um novo mundo. Diferente do radio, a TV começava ali a mudar os hábitos dos blumenauenses, que começava a inserir em sua vida a TV como algo do cotidiano. Nomes começaram a surgir, eventos foram transmitidos, ora alegres, ora tristes, por quase 10 anos a TV Coligadas fez parte da vida de muitos não só em Blumenau, mas em todo o vale, e nesse ano de 2009 marcava os 40 anos dessa história pioneira.

1. O Começo
No fim dos anos 60, um desejo era único dentre alguns empresários de Blumenau, um novo veiculo de comunicação, a idéia de TV já não era bem novidade para muitos blumenauenses, com alguma interferência causada pelos morros da região, era possível sintonizar a TV Paraná, canal 6, que era pertencente à TV Tupi na época. Os níveis de audiência vindos de Santa Catarina motivaram os paranaenses a fazer também um curto noticiário em sua programação. No entanto começava a se tornar fixa a idéia de se implantar a TV em Santa Catarina. Em Florianópolis começava lentamente a levantar a TV Cultura, cuja primeira transmissão oficial seria em 1970, mas de forma muito mais veloz, se formava a companhia que traria a televisão ao vale, e a concorrência pela administração da emissora também foi um capitulo a parte.
De um lado o conglomerado paranaense da TV Paraná que já requeria a instalação de uma emissora de TV em Santa Catarina, (naqueles idos, somente Paraná e o Rio Grande do Sul tinham suas emissoras), e de outro os empresários associados da mídia blumenauense, liderados por Wilson de Freitas Melro, Caetano de Figueredo e Flavio Rosa, que ainda contavam com um grupo poderoso de 307 acionistas, a disputa findava com a vitória do grupo blumenauense que assinou com orgulho o que ainda hoje é a razão social do prédio da RBS Blumenau: “Televisão Coligadas de Santa Catarina S/A”. Explicação obvia para o nome, Coligadas se devia ao fato da emissora reunir entre si, num conglomerado, a TV, as emissoras de radio pertencentes ao grupo, e em 1971, o Jornal de Santa Catarina.
Em meio aos desafios, tudo começava assim a ser esquematizado, a escolha e contratação de funcionários tinha que ser acompanhado de muito ensinamento e aprendizagem, afinal eram pouquíssimos, ou quase ninguém que trabalhara ou ouvira falar de televisão. Além deles, juntaram-se ao grupo também profissionais vindos de emissoras dos outros dois estados (TV Gaucha e TV Paraná) para auxilio nas instalações e monitoração dos empregados na aprendizagem dos comandos e das maquinas.
Ainda em 1968, a TV começava seus primeiros experimentos, apresentando slides referentes a fase experimental e filmes de uma hora, ainda mais surgiu ainda um desafio ainda maior, a construção da antena e do transmissor, para isso, a equipe precisou fazer um verdadeiro “safári” ao Morro do Cachorro, para a instalação do equipamento, estrada não havia, para isso foi preciso abrir um caminho para a chegada ao topo, uma íngreme e perigosa estrada por onde se levavam, além dos equipamentos gravados para os testes, as peças da antena, que pesavam quase 250 Kg!
O sinal entrava às 18 horas mais ou menos e fechava as 22 horas. Era um verdadeiro desafio levar os filmes ao alto do morro e começar as transmissões no horário. A movimentação da equipe da TV motivava até os colonos residentes na área, que também subiam o morro junto da equipe e, mesmo proibidos de entrar na sala, assistiam pela janela as imagens geradas dentro do próprio estúdio. Dentre as transmissões experimentais, uma delas foi especial, a do desfile da então Miss Brasil, Vera Fischer, em 1968.
O sinal entrava às 18 horas mais ou menos e fechava as 22 horas. Era um verdadeiro desafio levar os filmes ao alto do morro e começar as transmissões no horário. A movimentação da equipe da TV motivava até os colonos residentes na área, que também subiam o morro junto da equipe e, mesmo proibidos de entrar na sala, assistiam pela janela as imagens geradas dentro do próprio estúdio. Dentre as transmissões experimentais, uma delas foi especial, a do desfile da então Miss Brasil, Vera Fischer, em 1968.

Enfim os dias passavam, 1º de setembro/1969 se aproximava cada vez mais e tanto os funcionários, como toda a população, esperavam ansiosos a primeira transmissão, que acontecera sem mais atrasos. A partir daquele dia, Santa Catarina finalmente contava com o pioneiro, e tão esperado, canal de televisão próprio: “ZYB 760, TV Coligadas, Canal 3, Blumenau, SC.”
2. Afiliação a Rede Globo e os inesquecíveis programas
A história que envolve a afiliação da TV Coligadas é de fato curiosa, desde os tempos das experiências, a emissora parecia certa a assinar a sua afiliação com a Rede Tupi, além de ela ser a pioneira no país, era a mais assistida na cidade graças a TV Paraná, que chegava a cidade por meio de repetidoras implantadas justo por Flavio Coelho, Flavio era um dos responsáveis pela sucursal da emissora em Blumenau e que nessa época fora chamado para compor o “cast” da emissora.

Não só o ramo dramatúrgico era destaque, os programas de auditório da Globo também arrebatavam multidões, nomes como Silvio Santos e Chacrinha começavam a ser ouvidos na cidade, nesses áureos tempos, o que poucas pessoas sabem até hoje, é que o programa do Chacrinha teve já uma edição gravada no antigo pavilhão da FAMOSC nos anos 70. O Jornalismo também era destaque vindo da Globo, apesar de nervoso e complicado, a TV conseguia mesmo nos atravancos entrar em rede e exibir via Embratel o “Jornal Nacional”, novidade maior não existia, um jornal em rede nacional, era mesmo algo primoroso, e Blumenau estava nesse meio por intermédio da TV Coligadas. Também houve a transmissão da copa ao vivo do México e tantas coisas que foram possíveis graças a esse simples encontro em São Paulo.
Carlos Braga Mueller
Carlos Braga Mueller

Mas em Blumenau, também eram produzidos ótimos programas, a cidade já começava a conviver com os primeiros astros locais, que podiam ser vistos em sua emissora de TV. Em qualquer área, a TV Coligadas, com arrojo, criatividade e algum improviso, faziam história. A TV produzia jornalísticos, o “Telejornal Malhas Hering” era um dos principais da emissora, era incrível, noticias que ocorriam em todo o estado chegavam no mesmo dia a população, apresentado por Carlos Braga Muller, tinha como acompanhantes Jose Reinoldo Rosembrock (até hoje na ativa!) e Jesser Jossi nos esportes. Curiosidade era a respeito de Carlos Braga Muller, pois nos seus anos de apresentador, seu nome na TV se assinava apenas “Carlos Braga”, era para de alguma forma evitar confusão com o colunista social da região, o requisitado Carlos Muller, coincidência no nome era pouca, mas a igualdade fica só no nome. Entre outros jornalísticos, o “Repórter Garcia” era outro de destaque, apresentado por José Schreiber, tinha a compania do próprio Carlos Muller, e trazia os assuntos referentes a sociedade de Blumenau, ainda nos jornais, destaque ao “Santa Catarina Dois Minutos”, de J. Ceconni. Já mais afastado da crônica jornalística, havia o “Municípios em Revista”, atração de Telvio Maestrini que reunia prefeitos e políticos de Blumenau e cidades vizinhas, tendo como objetivo maior divulgar e se fazer conhecer melhor os municípios de nossa região.
Por falar nisso, havia também nessa linha de integração o “Show Da Integração”, uma espécie de Cidade contra cidade da época, apresentado por Gonçalves Dias e Márcia Flor, o programa era o que havia de maior em reunião estadual na TV Coligadas. A disputa reunia colégios representantes de cada uma das cidades a ser desafiado, o show reunia provas que iam das famosas perguntas até verdadeiras gincanas que prendiam os telespectadores até os últimos minutos de programa. E claro, havendo sempre apresentações de conjuntos de dança, musica e afins, convidados pelas cidades. O programa teve tanta repercussão que ganhou até edições interestaduais com o Paraná (através do canal 12, atual RPC).

Já na linha de entretenimento, além dele, havia o saudoso “Salve a Banda”, atração de Edemir de Souza que ainda percorre o imaginário popular, era apresentado aos sábados e sua formula era a mais simples, mas de grande sucesso, apresentação de bandas folclóricas dos mais diferentes rincões da região. Tamanho sucesso motivou diversos trabalhos como a escolha da rainha do programa e a gravação de um LP no inicio dos anos 70, com seis bandas, “Bandinha Avante”, “Moacyr e Seu Conjunto”, “Os Bandeirantes”, “Conjunto Típico Cavalinho Branco” Conjunto de Ritmos Society” e “Bandinha Verde Vale”. Até hoje não há blumenauense das antigas que não se lembra de Edemir de Souza e sua contribuição a cultura do vale. Ainda trabalhando, ele mostra ainda muita saúde e disposição, as mesmas do tempo da TV Coligadas. Havia ainda o “Domingo No Parque” de Valdemar Garcia, atração dominical que contava com a participação de crianças que respondiam perguntas, demonstravam seus talentos e recebiam diversos prêmios, sendo brindes a até lembranças personalizadas da própria emissora.
Além desse, outro programa de muito sucesso foi o “Mulheres Em Vanguarda”, apresentado por um verdadeiro selecionado feminino, sendo Maria Helena Dias, Dagmar Pohlmann, Vanja Siemann e Valmira Siemann, muito assitido por várias mulheres na cidade, ficou também no imaginário popular, ainda hoje é possível ver Valmira em atuação na TV Galega.

3. Curiosidades
Durante as experiências, o apresentador Jose Schreiber (foto) redigia a noticia do Repórter Garcia quando sua pauta vai ao chão, o câmera, ainda inexperiente e achando o abaixar do jornalista normal, seguiu-o e revelou muito mais do que se sabia, o apresentador de terno na parte superior usava um esportivo short e havaianas abaixo das câmeras. Era o programa Salve a Banda, e no palco uma simples ba
nda de um baterista, um pistão, um saxofone, uma gaita e um bandolim, o baterista tocava animadamente com a barra da calça levantada, quando o câmera resolveu dar um close nos pés do baterista, quando o mesmo viu seu pé no monitor, repentinamente parou de tocar e começou a mexer seu pé para se certificar que era dele mesmo, provocando protestos desesperados dos companheiros. Ao testar o microfone-BOOM no alto do cenário, um dos funcionários deu um sonoro grito “saiu o pagamento macacada!”. Sem perceber o operador de áudio abriu o som no ar sem querer. Resultado cômico para todos os telespectadores. Na estréia do Fantástico em 1973, a emissora não estava inclusa na rede já que a única linha disponível já era da RBS de Porto Alegre, nesse meio a solução final foi uma autentica “gambiarra” televisiva, a emissora então montou um mecanismo simples que jogava o sinal das antenas de Curitiba para Joinville, e assim chegavam aos transmissores de Blumenau, estratégia muito bem bolada e a mostra maior do contorcionismo da equipe. Fogo no ar, a iluminação era muito caprichada no programa de Carlos Muller,que costumava utilizar uma larga capa nos ombros, durante um programa uma parte de sua vestimenta estava posada num equipamento de luz e começou do nada a pegar fogo. Quem viu não se esqueceu do susto de Carlos ao ver a capa pegando fogo. Outro episodio parecido ocorreu no concurso de “Rainha dos Balneários De Santa Catarina” em Balneário Camboriu, dessa vez a vitima foi uma cortina próxima aos holofotes. Ate a unidade móvel não escapou de uma situação cômica, durante uma transmissão quem se encostasse ao veiculo recebia um leve choque, a causa, um fio solto estava no chão molhado da Praça Hercílio Luz, em Florianópolis. 


A entrada do Jornal Nacional em rede era um evento épico, e emocionante por sinal, um telefonema determinava a entrada em rede do noticioso, era deveras emocionante, em momentos a programação blumenauense estava adiantada e tinha-se de literalmente “encher lingüiça” no momento, em outros o atraso era compensado com o “puxar” das películas de 16mm para acelerar a programação, em casos se puxava filme demais, e ai tocava-se os comerciais do governo para compensar o “puxado” excessivo. O carinho dos diretores e artistas com os funcionários era sempre muito bem recompensado, nas noites de natal e ano novo, os funcionários de plantão ganhavam uma ceia inteiramente paga por Caetano de Figueredo, em outro caso muito conhecido, o saudoso Dom Gregório Warmeling (em saudosa memória), quando comparecia para apresentar seu programa religioso sempre distribuía cigarros e chocolate aos funcionários, para os fumantes, cigarros, para os não fumantes, chocolate. A TV Coligadas chegou a ter até um time de futebol, formado por funcionários e até por jogadores e ex-jogadores do Palmeiras, com o intuito de se apresentar nas várias regiões do estado onde se fazia presente.
Numa disputa do Show da Integraçã
Numa disputa do Show da Integraçã

Um dos personagens da novela “A Ponte Dos Suspiros” era “O Escalabrino”, interpretado por Paulo Araujo, ele ficou tão famoso que a empresa Rodovel estampou em um de seus ônibus o nome do personagem.
Durante a FAMOSC em Joinville, a TV Coligadas esteve presente com uma atração especial, uma câmera apontada para o publico que passava pelo estande filmava os transeuntes no local, quem via não escapava de fazer caretas para a câmera.
A chegada da TV em cores protagonizou uma cena incrível em Blumenau, durante a transmissão da Festa Da Uva em Caxias do Sul (o primeiro evento ao vivo a cores do Brasil) a Loja Prosdócimo do centro, por sugestão dos diretores da emissora, colocou um aparelho a cores ligado durante a transmissão, não demorou muito até vários populares abarrotarem as vitrines da Prosdócimo observando atentamente a transmissão colorida.
4. O Adeus Da Tv Coligadas

Em 1971 surgia de maneira extraordinária o Jornal de Santa Catarina, “o Santa”, a intenção do lançamento do jornal era firmar de vez a posição principal da TV Coligadas na publicidade e na comunicação do estado, era o primeiro jornal impresso no padrão “off-set” no estado. A equipe formada contava com jornalistas e profissionais vindos de outros estados e daqui, eram 35000 jornais distribuídos diariamente no estado, uma verdadeira obra da comunicação impressa no estado. No entanto, surgiram dificuldades, o departamento de jornalismo se transferiu para a Rua São Paulo, onde ficava o jornal, as noticias chegavam em cima da hora aos noticiários da emissora, tantas dificuldades, somados aos custos tornaram instável a situação, uma das provas era que a Loja Tevelandia, de propriedade da TV, tinha além de seus funcionários, os motoristas do jornal registrados em seu pagamento, a sociedade se abriu e em 1976 o grupo foi colocado a venda, um grupo solido se desmontava em menos de 10 anos.
Mauro Petrelli assumiu a direção da emissora, mas a situação ficou pior quando a TV Coligadas perdeu a programação da TV-Globo, já que a RBS se instalara em Florianópolis e manteria la sua cabeça de rede, a TV encontrou como solução comprar a TV Cultura de Florianópolis (a 2ª do estado) e ficar c
om a programação da TV Tupi, quando a emissora estava quase fechando suas portas, eis que surge a RBS como esperança final, a emissora é comprada em 1979 e em 2 de setembro de 1980 abria as transmissões da RBS TV Blumenau, trabalho esse que segue com competência até os dias de hoje. Hoje a RBS também detém o Jornal de Santa Catarina, e ainda utiliza os mesmos transmissores, antenas e instalações da TV Coligadas desde 1980, provando que todo o trabalho, a força, a garra e o gingado dos profissionais que “fizeram a hora” na emissora foram primordiais para que hoje o nosso estado seja reconhecido em seus meios de comunicação, e pensar que Blumenau foi a maior responsável para que toda essa história acontecesse.

5.TV Coligadas e a Memória de Blumenau
Hoje, a TV Coligadas ficou no inconsciente popular de muitos que tiveram a oportunidade de presenciar o nascimento do que foi a pioneira em TV em nosso estado, ao olharmos para trás, vemos que o esforço feito por todos os que aceitaram o desafio de muito valeu para que a TV finalmente pousasse em nosso estado.
No entanto, em muitos aos quais perguntei, parecia que haviam se esquecido da emissora. Muitos não se lembravam de varias coisas e eu, pensando em todo o valor que o blumenauense da a sua história, pensei porque o mesmo nunca foi feito com a TV Coligadas? A RBS em momentos parece esquecer que foi aqui há 40 anos que se estabeleceu a primeira emissora de Santa Catarina, a população pouco conhece do que foi a TV-Coligadas. Nenhuma exposição, nenhuma reportagem especial sobre a emissora, nada, ainda anseio um dia ver alguma imagem, algum rolo de filme que sobrou da TV Coligadas, o que pra mim, permanece uma incógnita saber se isso ainda existe para que a Blumenau que não viveu a TV Coligadas veja como nossos pais e avós viram essa menina nascer.
Aos que trabalharam e fizeram história, saibam que vocês jamais serão esquecidos, todos os momentos alegres e tristes, agitados e tranqüilos, sempre farão parte do retrospecto do legendário prédio da Rua Getulio Vargas, onde todos vocês residiram e marcaram vossas vidas. E ao povo de Blumenau, que ainda vê nos vultos da TV de hoje o que via na Coligadas, que sua memória nunca se esqueça da menina que um dia, abriu seus olhos, e mostrou Santa Catarina para seus filhos.
Para sempre, Televisão Coligadas de Santa Catarina S/A.
*Agradecimentos a Zair Aníbal De Souza, o Zico, que muito colaborou ao escrever seu livro e no qual me embasei ao relatar a história da emissora.
André Luiz Bonomini
Arquivo de André Luiz Bonomini/Carlos Braga Mueller e Adalberto
(Fonte: Adalberto Day)